O POPULAR 27/06/2010
O cidadão é ficha limpa?
Com a reabertura política na década de 80, em nome da liberdade de expressão, a figura do político passou a ser objeto de chacota em quase todos os programas de humor da televisão brasileira. Um exemplo é a série O Bem Amado, de Dias Gomes, produzida e exibida de 1980 a 1984. Nela, o político era apresentado como esperto interesseiro, libidinoso, corrupto e engraçado.
No imaginário do brasileiro a política se transformou numa espécie de reduto exclusivo da corrupção, do desvio de verba e da safadeza. Essa retórica foi tão bem edificada que agora a Lei Ficha Limpa transparece um tipo de progresso que é válido, mas que atende muito mais àquela exigência imaginária midiática do que à solução do Problema real da corrupção no País.
A postura de considerar a política como reduto exclusivo da corrupção brasileira é tão ilusória quanto acreditar que toda loira é burra, que pobre é mais feliz que rico e que todo muçulmano é terrorista.
O que se pretendeu na parte (classe política), lamentavelmente não foi nem está sendo discutido no todo (cidadão em geral). O problema central é: parcela considerável do cidadão brasileiro não é ficha limpa. Na verdade nem cidadão é, mas apenas eleitor.
Eleitor porque somente se convalida enquanto tal nos poucos segundos diante das urnas, ou somente se ocupa com a política durante a campanha eleitoral, ou se propõe a exercer atividade política para defender interesses exclusivamente pecuniários. Para este, democracia se resume a voto.
Até que ponto o eleitor é cidadão? Cidadão, partícipe do processo democrático, discute idéias, acompanha os candidatos antes e depois, reconhece cotidianamente a si mesmo como parte da democracia. Para este, o voto é apenas uma parte.
Isso significa que a Lei Ficha Limpa, aprovada para os políticos, deve ser a questão do dia para o cidadão em geral: ele é quem deve ser ficha limpa na fila do banco, no condomínio onde mora, no relacionamento empresarial, sobretudo quando sua empresa se relaciona com o Estado, etc. Ninguém é fiel no todo se não é fiel nas partes de sua vida. Cidadão ficha limpa é que garante a higiene da política. Afinal, todo político também é cidadão.
WAGNO OLIVEIRA DE SOUZA é mestre em Filosofia Política e professor universitário contato@professorwagno.com.br
Isso é um texto de primeiro mundo. Semente de excelente qualidade pra ser plantada aqui.
ResponderExcluirBeijão, Simone!