Impossível entretanto, não remeter-me por toda a minha vida, medindo o quanto de meu pai tenho em mim, e o quanto os dias o fizeram necessário e eterno em meus dias.
E hoje sendo mãe, maior ainda é minha preocupação com essa função unica e mágica do pai na vida de uma filha. Há que ter sempre uma nuance leve e soberana, essa presença necessária e fundamental. Aprendi com meu Pai que aquilo que se ensina, jamais se perde, que o amor que protege também merece vez em quando educar. Que distancia alguma diminui este amor, mesmo que não seja esta uma distância física, quer seja emocional. Esse é um laço que não se desfaz, mas perfaz-se cada mais mais significativo, quanto mais amadurecemos.
Percebo que parte da leitora que existe em mim, surgiu da insistência dele. Que muito da observadora que desenvolvi em mim foi moldada por ele, e isso só é percebido quando tudo o mais já não se mostra tão vivo e intenso.
O primeiro livro que li foi sobre seu olhar, cheio de um brilho único. E assim o foi por diversos momentos, em que ao me ver ansiosa, agitada, vinha disfarçadamente com alguns livros que "por acaso" havia visto em alguma livraria que igualmente por acaso lhe passou pelo caminho.
Foi dele que ouvi a primeira poesia declamada, ouvi Geraldo Vandré, quando ainda não se podia falar em "revolução". Quanta vida! Quanta informação!
E hoje percebo que em diversos atos e fatos do meu cotidiano, o que sempre busquei foi aquele brilho em seus olhos na minha primeira aventura literária, como pequena leitora, que não sabia ainda, o quanto de espetacular me esperava esse universo.
Não há dia melhor do que aquele em que me vejo somente filha, onde o lapso de tempo não sinta o peso da distância que insistimos em não visualizar.
Há uma eternidade nesse sentimento de filha, diariamente esquecido em mim. Que eu seja a filha sempre, que ele seja o Pai eternamente.
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DIGERINDO...